behind the scenes, dentro de tudo.

15 outubro, 2008

MANIFESTO MAMBEMBE

ESSA É A BASE DA NOSSA IDA AO FESTIVA DELLA creativita, .....um manifesto criado por BRIZZA DAtti, encabeçado por FELIPE MOrozini e ALUNOS MEGA TALENTOSOS DO IED.
o EStudio XINGU participa como convidado e vive , acredita e testemunha esse MANIFESTO

MANIFESTO MAMBEMBE
REGIAO ERMA E AFASTADA

Mambembe é a parte do Progresso na bandeira da republica federativa brasileira. È uma região de passagem que na Historia do Brasil nunca entrou em conflito territorial e acha o termo fronteira uma galhofa da sociedade como ascensão social e restituição do imposto de renda. Como seus habitantes mudam a toda hora, o regime que se instalou na área é a “política da boa vizinhança”. A bandeira oficial de Mambembe é uma ponte entre um rio e um céu com três mil e 783,7 estrelas cadentes, cada estrela representa as três mil e 783,7 regiões ermas dentro do território brasileiro; a ponte simboliza um lugar de passagem e o rio impede qualquer tentativa de se fixar moradia debaixo dessa. Mambembe diz que no jornal corre todo o presente e por isso não tem diário próprio, oque se lê hoje só serve pra embrulhar o peixe de amanha.

A igreja é o único tipo de construção fixa permitida na região, suas paredes são feitas de ex-votos. Pernas, braços, cabeças, mãos, coração, pés. Paredes formadas por membros, às vezes confundidas com corpos empilhados. Segue a razão e proporção exata de quanto maior a dor do povo maior a casa de Deus. O matrimonio não é bem visto em Mambembe, diz que “Casamento não é bom e isto é fato verdadeiro, pois o diabo não se casou e Jesus morreu solteiro”. Aos mortos se reserva uma cruz no beiril da estrada, para que esses não se percam do caminho ou entrem na contramão atrapalhando o trafego.

Se à Deus se leva as moléstias do corpo, ao caixeiro-viajante se leva os males do espírito.
O povo de Mambembe acredita no poder comprado dos fortificantes “Pau Brasil”, xaropes “Pra que Botox?”, perfumes “Pega Rapaz” e pílulas “Acorda Defunto”. Mas não só da desgraça do coração alheio vive o caixeiro, rei das novidades e estrela das histórias de cordel. Entre seus potinhos mágicos se encontram as ultimas e mais recentes descobertas. È propagador das tendências mais diversas e das doutrinas exotéricas mais recentes. È o glutão das supernovas, não se intimida com as grandes mudanças e acha a guerra um bom negócio por subir sua carroça de valores. Não perde uma estréia, uma amostra, uma tesourada de faixa e nem uma decisão de final de futebol. Se sente praticamente um servidor publico e de vanguarda.

È o caminhoneiro o pensador e poeta de Mambembe. Seu pára-choque tem razão quando diz que “Sem caminhão o Brasil para”. Ciente da importância do que leva e traz, se sente um herói capenga, destruidor das distancias e devorador da saudade.
Se sente um capenga marginal porque nada mais faz do que prestar um serviço para a economia do Brasil. Enfrenta estradas estradeiras, pedágios “aqui se passa, aqui se paga”, miragens a óleo diesel e toda sorte de arapucas do diabo. È homem de figura quase sagrada, cuspidor de fogo nos bafômetros, aquele que viaja o mundo sentado. Imortalizado em programa de TV aberta e em estação de radio AM.

A figura feminina de Mambembe (nem sempre mulher de nascimento) é itinerante, dorme em tudo que é carroceria e boleira de caminhoneiro, tem pavor de homem de farda e de parceiro fixo. Tem como musas Geni e Suely. Se vende por achar que esse é o papel da mulher na sociedade Mambembe e procura as formas mais lúdicas de se fazer isso, seja como prenda de rifa ou abordagem de posto de gasolina. São mulheres mal feitas, no acostamento do ideal brasileiro de largas ancas, se assemelham a um corpo e a uma atitude infantil mesmo quando deixam de ser criança.

Mambembe se orgulha de ser o único lugar do mundo onde a arte vem até o povo. Venha o teatro, venha o cinema e venha o circo Mambembe. Que no maior palco do mundo, bem no meio da rua, sobre o céu das mil nuvens se desenrole a trama da vida, seja em forma de película ou em forma de ilusão. Tudo se vê ao lado de fora e não há museu no mundo que os convença que arte vale um ingresso. Não apreciam escultura ou arquitetura, acham artes estáticas em demasia.

Divulgam sua arte nas laterais dos veículos vagantes, nas bicicletas, nas carroças e nos caminhões. Suas pinturas são uma abstração do Fileteado Portenho argentino, que tem suas origens na Itália. De fundamento publico e popular, seus artistas são imigrantes e margeados, empregados como mecânicos e marceneiros. Arte adornista de volteios e flores, em traços finos ou grossos sobrepostos sem luz e sombra e sem perder a busca pela simetria e equilíbrio entre as vistas direita e esquerda; assim a obra pode ser admirada tanto na partida como na chegada. Diz-se do filete a pintura da saudade: “Se o Tango é um pensamento triste que se dança, o Filete é um pensamento alegre que se pinta.”


O movimento Mambembe não é absurdo, surreal ou ignorante, sabe que um terno é um traje formal e que uma cadeira tem assento, encosto e quatro pernas, mas se cada perna é feita do mesmo material isso já não importa. Para o movimento as coisas têm valor por ser oque são e não pelo que são feitas ou por quem são feitas. Uma carteira tem valor por ser uma carteira que guarda dinheiro e não por ser de couro legitimo ou por carregar tal marca. O Mambembe nunca colocaria um pinico no lugar de uma roda e se orgulha por se aproximar ao máximo da realidade com recursos poucos e ordinários.
Não é pauperista porque não valoriza a pobreza, mas sabe que a coroa faz o rei e que o brilho faz o ouro. Diz-se próximo do povo e do popular no sentido do simples, mas não vê sentido no culto da chita, do biscoito globo e do ovo colorido. È malaco pra saber tirar a ultima modinha musical de uma caixa de fósforos ou de um paliteiro de dentes.
O Mambembe não propõe nada novo nem design, ele propõe um realismo capenga, uma realidade acessível e conhecida feita com matérias improváveis e de forma improvisada. È paradoxal e contraditório, em quanto busca o mais comum realismo é fascinado pela figura do falsificador, do prometedor das curas e do arranjador de soluções. A simpatia pela habilidade em enganar, pelo poder do ilusionismo, pela pericia na imitação, fazem do mágico, do caixeiro-viajante e daquele que ri nas barbas dos especialistas, heróis comuns dentro do coração do cidadão Mambembe.

Mambembe é sim ordinário, improvisado, risível e itinerante, é contraditório, popular e alegórico, é dente de platina, olho de vidro e perna de pau, é carnavalesco, é congadeiro e malandro de opera, é mexido, é Geni e se vira nos trinta.
Mas não deixa de ter o seu valor.http://www.festivaldellacreativita.it/